Os últimos meses tem sido, para dizer o mínimo, caóticos. Incapaz de conseguir continuar escrevendo textos mais elaborados sobre o que tou lendo (e as leituras aumentando na proporção dos tempos em trânsito que tenho tido), ainda assim sinto que devo fazer esse registro. Segue então um registro das últimas leituras que fiz a partir de um brevíssimo comentário:
Leitura #10: Deleuze (1997), de Alain Badiou: uma ótima análise de Deleuze a partir do par univocidade-heterogeneidade. Uma obra que leva a sério Deleuze sem deixar de investigar os compromissos/apostas que diferenciam o projeto deleuziano do badiouano.
Leitura #11: Peut-on penser la politique? [Podemos falar de política?] (1985), Alain Badiou: Um excelente livretinho sobre o que significa pensar a política num momento em que as referências tradicionais da esquerda comunista estão em crise. Excelente também a maneira como ele busca explicar a partir de pequenos modelos as condições para o surgimento de práticas políticas inéditas — ou seja, como podemos começar a entender uma experiência em que verdades políticas emergem.
Leitura #12: D’un désastre obscur - sur la fin de la vérité d’état [De um desastre obscuro – sobre o fim da verdade do estado] (1998), Alain Badiou: mais um livrinho curto, mas dessa vez sobre o fim da União Soviética e sobre suas implicações na política. Uma das melhores defesas de que o fim (uma crise) não é um evento que dá início a uma nova sequência.
Leitura #13: Pequeno manual de inestética (1998), Alain Badiou: Uma série de análises de obras de arte (sobretudo poemas) que de certa forma demonstram para Badiou as verdades estéticas. Além das leituras “particulares” acho que o que mais me marcou desse livro é a maneira como se vê que existe um lugar fundamental para a obra artística (o poema, em oposição ao matema) na reflexão sobre o mundo que ajuda a desfazer as imagens de um Badiou apenas preocupado com teoria dos conjuntos e formalizações matemáticas.
Leitura #14: L’increvable désir [o desejo infatigável/indestrutível] (1995), Alain Badiou: Só tem uma forma de descrever esse livro: “É preciso imaginar Sisifo Beckett feliz”. Incrível leitura, ainda que com a mesma morosidade e lentidão que encontramos nos textos beckettianos.
Leitura #15: A meta (1984), Eliyahu M. Goldratt e Jeff Cox: Um romance filosófico do mundo de negócios que certamente mudou minha forma de encarar e pensar problemas organizacionais. É um livro terrivelmente mal escrito, cafona, mas que ainda assim traz questões e problemas de forma didática, de modo que tudo aquilo que precisa ser entendido é apresentado no momento certo, de modo que o processo de descoberta é essencial para a apreensão do saber. Um herdeiro legítimo de Platão, ainda que de certa forma escondido sob a forma de um livro de adminsitração (e, como se percebe, no livro, “a meta” não é apenas – ainda que isso seja um foco – ganhar dinheiro).
Leitura #16: A vida de Galileu (1943), Bertolt Brecht: Uma peça absurda. Toda a ranzinzice do Galileu à serviço das verdades científicas recém-descobertas, de um desejo de disseminar e não se curvar diante de certas instituições. Ainda em choque com esse meu primeiro Brecht.
Bem, por hoje é só! Espero voltar a ter tempo para escrever mais no futuro nesse blog, mas no momento as coisas estão caóticas.